16 de maio de 2015

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Natascha Kampusch passou toda sua adolescência privada de liberdade, confinada num cativeiro de 5m², foi torturada física e psicologicamente dos 10 aos 18 anos por um psicopata inteligente e meticuloso. Apesar da pouca idade, soube lidar com a situação com maturidade e não deixou ser dominada pelo sequestrador. Teve o sangue frio de esperar o momento certo pra a fuga, que ocasionou uma crise no governo e nos serviços de segurança austríaco, depois de serem reveladas falhas e acobertamentos de erros nas investigações policiais que poderiam levar à solução do caso, pistas importantes foram negligenciadas.

"O depoimento da menina de 12 anos, Ischtar Akcan, que declarou ter visto ela ser jogada dentro de uma camionete branca e que havia um segundo homem nela, apesar de feita dois dias após o sequestro, só começou a ser investigada mais de duas semanas depois. A Akcan, porém, nunca foi pedido que fizesse uma descrição do homem que viu, para a confecção de um retrato falado. Quando ela viu a foto de Přiklopil na televisão, após a fuga de Natascha em agosto de 2006, reconheceu-o imediatamente. Além disso, a polícia anunciou aos meios de comunicação que havia essa nova pista e que as vans brancas da cidade seriam investigadas. Isto deu a Přiklopil tempo de se preparar. Ao ser visitado em casa pela polícia na Páscoa, no 43º dia de cativeiro de Natascha, o raptor havia enchido a camionete de entulho para dificultar qualquer investigação mais detalhada, e disse que estava transportando e retirando material para as obras em sua casa. Sobre o dia 2 de março, afirmou apenas que não tinha saído de casa. Seu único álibi era sua própria declaração, sem qualquer testemunha, mas mesmo assim sua camionete foi apenas fotografada para os registros e ele não foi mais incomodado. A casa, com Natascha escondida no porão durante a batida, não foi revistada. Cães farejadores que a achariam com facilidade pelo faro através de seu cheiro nas roupas cedidas pela família, não foram usados na inspeção. O investigador que fez a visita declarou oito anos depois que Přiklopil foi "bastante cooperativo e amigável e não viu razão para duvidar de suas respostas."

Natasha foi sua própria heroína, e hoje, ao ler sua biografia, também é a minha. Que outras crianças ou mesmo adultos suportariam tais abusos? O que mais me impressionou foi a sua vontade de viver. Fosse eu, teria feito uma das tentativas de suicídio darem certo. Enquanto isso, ela enfrentava o raptor e cada dia naquela minúscula cela, com bravura, se negando a ser uma vítima. Nunca esqueceu de quem era, mesmo quando lhe repetiam por anos que era burra como um cachorro, que ninguém a amava, que seus pais não a queriam de volta... ainda assim, não se deixou abater e triunfou. Que história inspiradora! Às vezes a gente acha que tudo acabou só porque foi mal numa prova, o corte de cabelo deu errado, ou porque aquele garoto não te correspondeu... Aí, você lê sobre a vida de uma pessoa incrível e tudo soa tão insignificante, que chega a se perguntar: qual era mesmo o meu problema?

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