23 de setembro de 2013

Nas raivas da loucura

De vez em quado, algo acontece em nossa vida que nos leva a reavaliar nossas prioridades. Às vezes é um aniversário traumático ou um amigo passando por uma crise. Para mim, foi o enterro de um grande amigo que me deixou vulnerável, confusa e incerta quanto ao meu papel nesta vida.
Eu queria tirar todas as minhas economias do banco e ir para o Taiti. Queria pôr os pratos de plástico no asfalto e das a marcha à ré, passando sobre eles. Queria ter aulas de balé. Jogar fora todas as flores artificiais e substituí-las por uma selva de trepadeiras e folhagens. Queria tirar todos os tapetes e deixar a poeira se espalhar por onde quisesse.
Nessa mesma noite, refleti sobre a minha vida, mudei as estratégias e fiz um juramento. Eu não seria como a mulher do Titanic que, ao subir no bote salva-vidas rumo a um destino incerto, lamentou, arrependida: "se eu soubesse que isso iria acontecer, teria pedido musse de chocolate de sobremesa".
Então, prepare-se ao mundo! A Madame Patricidade vai começar a viver cada dia como se fosse o último. Lembra-se daquela grande vela em formato de rosa que juntou poeira na sala de estar e acabou ficando todas mole no verão? Eu acendi ontem. E o vidro do carro, aquele do meu lado, que tinha uma pequena rachadura e que eu disse que substituiria quando fosse vender o carro? Bem, já mandei pôr outro no lugar.
Adivinhe quem está vindo para jantar esta noite? Eva e Jack, com que me encontrei em dezesseis casamentos e para os quais eu dizia sempre a mesma coisa:
_ Precisamos nos encontrar um dia destes!
E sabe aquela lata de pescado que eu não queria abrir porque sou a única que come peixe e não conseguia suportar a ideia de desperdiçar o resto? Adivinhe o que aconteceu com ela?
Enquanto eu lavava as mãos com um sabonete cor-de-rosa em formato de concha, meu marido disse:
_ Pensei que você fosse guardar alguns desses sabonetes. Você os molhou e eles não se parecem mais com uma concha.
Olhei para baixo, para a mão cheia de espuma e pensei: "a conha só serve para aprisionar a vida, eu queria lhe dar a chance de ser uma outra coisa".

Esse texto, que me identifiquei demais, é de Erma Bombeck.
Sou dessas de não guardar sabonetes bonitinhos. Ao terminar de ler um livro, ele não raramente volta à prateleira, dôo a uma biblioteca, pois, caso um dia queira ler de novo, sei onde procurar. Sempre que posso fazer um "limpeza" de tudo que não uso ou que não cabe mais, eu faço. É preciso livrar-se do velho e desnecessário pra abrir espaço em que as coisas novas possam entrar.

Um comentário:

  1. Oii! Esse texto é mto bom mesmo! Inspirador! Ótimo pra ler de manhã como eu acabei de fazer! rs Obrigada pela visita! Será sempre bem vinda! Beijosss

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